sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um trauma para a vida toda – meu sincero desabafo

Sim, eu estava lá. Comprei ingresso para a parte mista – que, de mista, não tinha nada – para ser sacaneada do início ao fim e não ter um argumento sequer para me defender. Segurei o choro durante todo o tempo, com medo de que minhas lágrimas estampassem uma manchete de jornal cujo título seria “o chororô voltou” ou algo assim. Gastei uma manhã inteira para comprar ingresso, paguei 70 reais, fiz um cartaz lindo para declarar meu amor ao Botafogo. E vi, em pleno Maracanã, um time apático, covarde e sem reação levar uma goleada do seu maior rival e dar novamente adeus à Copa do Brasil.

A desculpa de que a torcida não comparece ao estádio já está desgastada. Todo ano dizem a mesma coisa. Mas a explicação para esse fato consiste em uma matemática muito simples: se a torcida adversária for quatro vezes maior do que a nossa e ambas comparecerem no mesmo percentual, o resultado será nada menos do que 80% do estádio ocupado por eles. Embora ninguém goste de dizer isto, é a verdade: tem muito mais molambo do que botafoguense no Rio de Janeiro. E, se continuarmos assim, essa proporção se tornará cada vez mais desfavorável a nós, pois é fato que uma torcida se renova com títulos. Pesquisas mostram que nossa torcida tende a diminuir com o tempo, já que a proporção de jovens que torcem pelo Botafogo é muito menor do que de outras faixas etárias. Isso é algo muito simples de se entender, dada a história recente do clube. Eu, com 22 anos, nunca vi o Botafogo ganhar um título grande ou ir para a Libertadores. Uma torcida de um time grande jamais se renovará apenas com títulos de campeonatos estaduais enquanto os rivais próximos estiverem participando da Libertadores e comemorando títulos como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. 

Não bastasse essa carência de títulos e participação na Libertadores, ainda temos que sofrer todo ano. Somos o cavalo paraguaio da década: ano após ano lutamos pelo título ou pela bendita vaga e terminamos o campeonato no G-9, além de sermos eliminados da Copa do Brasil de forma traumática. O sofrimento chega todo ano, mais cedo ou mais tarde, e somos obrigados a ouvir todo tipo de piadinha contra nós. Depois disso, juramos que nunca mais acreditaremos novamente, mas um novo time promissor nos faz acreditar que seremos campeões de tudo... Até a próxima decepção.

Analisando friamente, continuo acreditando que este time de 2013 é um dos melhores da história recente do Botafogo. Porém, isso parece não ser suficiente quando há uma atmosfera pessimista e um espírito de perdedor pairando sobre nós. Parece que, se esses mesmos jogadores jogassem em outro time, nas mesmas posições, seriam campeões de tudo. Mas o simples fato de estarem no Botafogo os farão amarelar nos jogos mais importantes do ano. Tomamos goleadas em dois jogos decisivos: 3x0 contra o Cruzeiro e 4x0 contra os molambos. Mas há que se admitir que, na quarta, o time se superou no quesito falta de raça, já que em momento algum parecemos estar próximos de fazer um gol. Esses jogadores aceitaram o sacode de cabeça baixa e se recolheram à sua suposta inferioridade de uma forma inacreditável, como alguém que reconhece sua incapacidade de vencer. Não fomos apenas eliminados, fomos humilhados. O “metrô da melancolia”, após o pênalti e a expulsão de Dória, estava cheio de botafoguenses mergulhados no sofrimento e na desilusão, que se consolavam como amigos de infância. E, sem resposta à altura, cada um deles foi sacaneado até entrar em casa depois daquele 4x0. Perdi a conta de quantas pessoas me chamaram de “chororô”.

Antes que venham querer culpar a torcida, gostaria de lembrar a todos que essa mesma torcida lotou o Maracanã na final da Copa do Brasil contra o Juventude em 1999 e, em vez de gols, viu a festa do adversário. Essa torcida apoiou o time até o fim em 2002 e chorou na derrota que selou o rebaixamento para a série B. Se torcida ganhasse jogo, não teríamos sido campeões em 1995 na casa do adversário. Nem mesmo uma dúzia de botafoguenses no estádio pode justificar um time que, ao invés de tentar entrar para a história do clube, simplesmente abdica de entrar em campo e nos faz passar por um dos maiores traumas futebolísticos da nossa vida. Esse time não honrou a camisa que veste, camisa esta que foi usada por jogadores como Garrincha, Nilton Santos e Didi, que fizeram do Botafogo o que ele é hoje. Esses jogadores, ao contrário de tantos craques que já tivemos, estão desconstruindo a linda história do nosso clube e transformando um passado de glórias em um presente de decepções. 

Alguém tem que gritar no ouvido de cada um deles, incluindo também Oswaldo, Maurício e a diretoria: “Acordem! Nós somos o Botafogo!”.  Prezada diretoria, somos torcedores apaixonados de um dos clubes mais importantes da história do futebol e tudo o que queremos é um título! Queremos poder comemorar, sair gritando pela rua, subir na asa do avião, fechar o túnel, ajoelhar no meio da rua, buzinar até a vizinhança toda acordar e poder mais uma vez dizer: “Somos campeões!”. Mas, em 2013, nosso sonho acabou novamente. E, depois do desrespeito à nossa Gloriosa camisa, acredito que esses jogadores mereçam jogar sem torcida. Alguém tem que entender o nosso lado: já fizemos tudo o que podíamos por eles e não aguentamos mais sofrer. Agora cabe a eles cumprir seu dever e pelo menos nos dar uma vaga na Libertadores... Caros jogadores, essa é a última chance de honrar a camisa que vocês deveriam ter orgulho de vestir. Vocês jamais estarão à altura do que representa o Botafogo, mas tratem pelo menos de não pisar em tudo que este clube já construiu.

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