quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

25 anos de mediocridade

Foi num dia 17 de dezembro que vencemos o Campeonato Brasileiro de 1995. A torcida fez uma festa como jamais se viu, invadindo a pista do aeroporto e subindo na asa do avião que trazia um time sem muitas estrelas, mas com um sarcástico Túlio Maravilha que atingiu o auge do deboche ao vice-campeão, ao carregar um peixe fresco na mão e fazer movimentos como se fosse devorá-lo. 

General Severiano nunca esteve tão cheia de pessoas. Houve até mesmo quem escalasse o mastro da bandeira, num acesso de loucura que só poderia mesmo ser provocado por uma desenfreada paixão futebolística.

Eu não me lembro de nada, mas sei que foi lindo, pois já assisti uma série de vezes os vídeos desse dia marcante e inesquecível para o torcedor alvinegro.

Numa noite tão memorável, nem mesmo o mais pessimista dos botafoguenses poderia supor que aquele seria o último título relevante que conquistaríamos nos próximos 25 anos. Na verdade, o mais pessimista talvez ainda viesse a duvidar, 4 anos depois, de que poderíamos deixar escapar uma conquista nacional em casa contra o Juventude. 

A virada do milênio veio, no entanto, para acabar com quaisquer ilusões ainda remanescentes: desde então, jamais fomos além de uma semifinal (Copa do Brasil, 2008 e 2017) em um campeonato de peso. É claro que não considero o Campeonato Carioca relevante, mas, se você quiser considerar, terá de se contentar com apenas 4 campeonatos nos últimos 20 anos (2006, 2010, 2013 e 2018), enquanto o time do esgoto, por exemplo, conquistou 10 (muitos com a ajuda da arbitragem, é claro, mas não vou entrar nessa questão por agora).

Em relação a isso, enfatizo sempre que o principal problema não é exatamente a ausência de títulos de peso, mas a impossibilidade de sonharmos com qualquer um deles. Enquanto assistimos, todo ano, os grandes clubes do Brasil - e ainda alguns "médios" - chegarem tão perto de um título nacional ou disputarem a Libertadores como mais do que meros coadjuvantes, temos de nos contentar com a dolorosa verdade de que nossa melhor chance de poder sonhar ocorreu justamente no ano em que fomos comandados por um treinador molambo. 

Pior do que isso é constatar que esse mesmo molambo ainda é venerado por muitos pelo simples fato de ter levado o Botafogo às quartas de final da Libertadores, como se não passássemos de um time pequeno sem qualquer tradição no futebol - algo que foi, inclusive, dito de forma direta pelo próprio treinador e mesmo pelo presidente do clube naquele ano.

A imensa maioria da torcida botafoguense gosta e acompanha futebol de uma forma geral, e não apenas o Botafogo. Isso é um problema, porque significa que não são apenas 25 anos sem títulos de expressão ou disputas acirradas pelos mesmos: são 25 anos observando os sonhos e as conquistas dos torcedores de outros times - inclusive os médios -, como se estivéssemos alheios a tudo isso. 

Sonhar não nos é mais permitido.

Somam-se a isso as incontáveis eliminações traumáticas neste século (Aparecidense, Juventude, Cuiabá, goleada sofrida dos molambos... Preciso mesmo citar todas?) que tornaram a vida do botafoguense mais do que sofrida: insuportável. 

A situação tornou-se tão crítica nos últimos 25 anos que não há, hoje em dia, qualquer razão para seguir acompanhando o time senão um amor inexplicável e incondicional. O Botafogo não é mesmo para os fracos, muito menos para os torcedores "modinha". 

O que, de certa forma, acabou por torná-lo tão único: só um botafoguense é capaz de compreender a dor de outro botafoguense.

Por isso, se hoje você encontrar um botafoguense deprimido por 25 anos sem título de expressão, não tente lhe mostrar o lado bom ("hoje é o aniversário de uma grande conquista"). Mesmo o mais otimista dos alvinegros jamais diria algo parecido em um momento tão dramático da história do clube. De modo que, se você consegue ver o copo meio cheio em uma data tão triste, tenho certeza de que não é botafoguense, mas torcedor de qualquer outro time menos místico, tortuoso e certamente menos medíocre do que o Glorioso foi capaz de se transformar nos últimos 25 anos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Uma piada chamada Botafogo de Futebol e Regatas

Imagine minha surpresa ao constatar que meu último post aqui, apesar de escrito há quase um ano, ainda é amargamente atual.

"Ah, como eu queria chegar pelo menos a uma final de Copa do Brasil, sem antes ser eliminado por Aparecidense, Juventude, Figueirense e outros, ou perdendo de goleada para rivais nacionais. Ah, como eu queria lutar por alguma coisa no Campeonato Brasileiro que não fosse escapar da série B."

Aqui estou, em 2020, pronta para avisar à Lohana de 2019 que nada mudou, pois ontem fomos eliminados da Copa do Brasil de forma escandalosamente ridícula - como não poderia deixar de ser - pelo poderosíssimo Cuiabá, e temos apenas três vitórias em um turno inteiro de Campeonato Brasileiro. 

No entanto, se a Lohana de 2020 tivesse aparecido à minha frente no fim do ano passado para acabar com as poucas esperanças que ainda me restavam na virada do ano, decerto que eu não acreditaria nela e responderia simplesmente: Não é possível! Isso só pode ser uma grande piada!

E, bem, não podemos dizer que não o é, definitivamente. O Botafogo de Futebol e Regatas, aquele que um dia já foi apelidado de Glorioso, aquele que alimentou seleções que marcaram a história do futebol, aquele mesmo que revelou tantos craques como nenhum outro clube em qualquer lugar do mundo, transformou-se, em realidade, numa imensa piada.

Uma piada de mau gosto, é claro, e certamente uma que está muito longe de nos fazer rir. Dizem que "só rindo para não chorar"; no entanto, a situação parece tão dramática que um riso não seria bem vindo ainda que tivesse o intuito único de camuflar as lágrimas que insistem em cair.

Sim, o Botafogo roubou nossos sorrisos. Ou, melhor... Não o Botafogo, propriamente, que ainda possui o escudo mais lindo e a história mais fascinante, mas os órgãos podres e hediondos que habitam há décadas o corpo de General Severiano.

Honestamente, eu nunca acreditei na S/A, embora tenha torcido desde o início pela sua chegada. Na verdade, sempre achei que aguardar a S/A como se espera por um messias salvador não nos poderia levar a outra coisa senão uma triste desilusão. E, veja bem, o botafoguense já possui desilusões demais para recordar neste século. 

Chegamos ao fundo do poço. A eliminação para o Cuiabá parecia tão óbvia que, ao final, tomei como verdade que os deuses do futebol só podem estar zoando com a nossa cara. Mas talvez eles não tenham culpa: o Botafogo tornou-se um caso impossível até mesmo para as entidades divinas. Paralelamente à fila das eliminações traumáticas e dos campeonatos jogados no lixo, temos o fim da S/A (este clube é tão bom em nos fazer sofrer que, em se tratando de coisas boas, elas são capazes de contrariar as leis gerais do universo e terminar antes mesmo de seu início...), toda a m*** jogada no ventilador pelo Youtuber Felipe Neto contra os irmãos Moreira Salles, a impressionante mudez de um presidente omisso e, por fim, as eleições ao final do mês.

Ah, as eleições! Vou resumi-las para você: um candidato amiguinho do Mufarrej e da sua corja; um com trejeitos de político corrupto, que publica vídeos claramente lendo um texto à sua frente, é contra a S/A e não explica de onde virá o dinheiro para as ações que planeja; e outro com cara de peixe morto, que não sabe mexer num computador e acredita que reformar a churrasqueira da sede social trará receita para o futebol. Na dúvida, vamos com o menos pior... Mas quem seria, afinal, esse tal de "menos pior"?

Não roubaram apenas nossos sorrisos; roubaram nossos sonhos. A esperança é a última que morre? E onde ela está, afinal?