terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Para Jair sabendo: a maldição alvinegra é maior que o Everest

Não poderia iniciar o post de outra forma senão com estas palavras: estou indignada.

Logo eu, que apoiei Jair Ventura do início ao fim. Mesmo depois que a Chapecoense, com um time reconstruído do zero em um ano, levou nossa vaga da Libertadores com um gol no último lance da partida, eu estava lá para dizer: vejam bem, não é culpa do Jair, ele fez o melhor com o elenco limitado que possuía.

Se me incomodou sua declaração de que a classificação para a Libertadores em 2017 seria, para o Botafogo, algo semelhante a escalar o Everest, tendo em vista que nosso clube nunca havia disputado a competição por dois anos seguidos?

Sim, me incomodou muito. Foi o maior exemplo do "pensar pequeno" de nosso ex-treinador. 

Entretanto, continuei insistindo em ver o lado bom. Chegamos muito perto de conquistas importantes em 2017 com um elenco que, de fato, não tinha estrelas, mas tinha raça e honrava a camisa.

A camisa que seu pai, Jair Everest, vestiu 413 vezes, marcando 186 gols. 

Pensei que você se orgulhava disso. Achei mesmo que não fosse sair do Botafogo agora. Afinal, poderia existir ligação maior com o clube do que ser filho de seu maior ídolo vivo? Não menos importante do que isso é a pergunta que preciso lhe fazer: quem era você antes da oportunidade de treinar o Botafogo? 

Por acreditar cegamente que, apesar de algumas declarações infelizes, Jair era tão torcedor do Glorioso quanto eu, vejo que o defendi mesmo quando ele não merecia mais. Não apenas eu, mas boa parte da torcida. Enquanto a mídia o endeusava, o Botafogo se afundava no Brasileirão, complicando o que parecia simples, ao perder jogos em casa para times que lutavam contra o rebaixamento. 

Nós vimos isso acontecer, não vimos? 

Sabíamos o final da história, não sabíamos?

Sim, pois já a havíamos vivido inúmeras vezes.

Mas, porque acreditamos que um dos maiores méritos de Jair era manter o grupo unido o bastante para superar todas as adversidades, fomos novamente surpreendidos. Falta de comprometimento, desculpas esfarrapadas facilmente contestáveis e apequenamento de uma instituição do tamanho do Botafogo, com declarações tais quais a do Everest, estavam aí para quem quisesse abrir os olhos.

Enquanto tudo isso acontecia, nós fechamos os olhos, porque afinal "Jair Ventura levou o Botafogo às estrelas em 2017 ", diziam os comentaristas. Fomos condicionados a acreditar, ainda que inconscientemente, que o Botafogo já havia ido muito longe no ano passado e que a vaga na Libertadores seria mesmo um feito inédito.

Então, o "deus" Jair nos deixou a ver as tais estrelas e foi encontrar os Santos. E nós dissemos apenas: "obrigada, Jair!"

O que não sabíamos, e que nos foi revelado agora, é que Jair Everest nunca foi botafoguense. Podem ficar boquiabertos, pois ele é molambo! 

Um vídeo antigo divulgado agora mostra a revelação. Ao ser questionado sobre isso, Jair respondeu, com um risinho frouxo: "ainda bem que eu saí do Botafogo".

Não foi difícil juntar as peças do quebra-cabeça. A admiração e o agradecimento, já nitidamente abalados depois do vexame da última rodada de 2017, desceu pelo ralo. 

Pois bem, Jair Everest, eu não sei se você conhece - acredito que não, tendo em vista que nunca foi torcedor do clube -, mas muito se costuma falar sobre a maldição alvinegra. Pode ter certeza de que ela jamais falha, e não duvide nem por um segundo de sua capacidade de alcançar o céu e o inferno - ou o Everest, como preferir. Portanto, é bom Jair se preparando!

Voltei

Depois do último episódio do interminável seriado "tem coisas que só acontecem com o Botafogo", exibido na última rodada do Brasileirão 2017, quando perdemos a vaga da Libertadores após o apito final, com gols nos últimos minutos dos jogos da Chapecoense e do Atlético-MG, tive que tirar umas férias de futebol.

Sim, sofri muito em 2017.

Certa vez, li num desses manuais de auto-ajuda: "quem não se ilude, não se decepciona". 

Pois bem, eu me iludi. Acreditei que 2017 seria diferente. Mantive o sonho vivo em meu coração sem medo de me despedaçar e levei a esperança até o último suspiro. Até a última lágrima. Revivi, em pensamentos, um futuro sonhado tantas vezes que quase acreditei que, de fato, escalei o mastro da bandeira e fechei o túnel de General Severiano, com o rosto pintado de preto e branco, comemorando um título inédito. 

Ah, doce ilusão!

Quando perdemos a vaga da Libertadores depois de 6 derrotas em 7 jogos, fiquei meia hora em silêncio com os olhos fixos na parede. Entendi que precisava de um momento de luto e, na solidão da desclassificação vergonhosa, percebi, mais uma vez, que não podia acreditar demais no Botafogo. Nunca!

Passei uma semana sem vestir a camisa alvinegra e um mês sem ler notícias relacionadas a futebol. Estava com o coração partido. 

Voltei com o rabo entre as pernas porque, apesar de tudo, o meu amor pelo Botafogo é e sempre será incondicional.

E que venha 2018. 

Dessa vez, aprendi que não devo esperar nada. Como gloriosa apaixonada que sou, minha única função é apoiar até o fim. 

Quando não houver mais forças, eu estarei lá. Sempre!

Porque fui escolhida. Não nego, não resisto e, enquanto meu sangue correr pelas veias, pode ter certeza de que ele será alvinegro.