quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O Fracassado

Há 108 anos, o desempenho excepcional do Botafogo no Campeonato Carioca (na época, o torneio mais importante) lhe rendeu o apelido de "O Glorioso".

Apelido ao qual fez jus durante muito tempo em seu passado, revelando ao mundo jogadores como Nilton Santos e Jairzinho e sendo o clube que mais cedeu atletas à seleção brasileira no século XX, além de possuir a maior invencibilidade do futebol brasileiro (52 jogos, entre 1977 e 1978).

Entretanto, nenhum clube vive só de passado. A história faz do Botafogo um time gigante, mas não faz dele um time vitorioso.

No século XXI, o outrora Glorioso transformou-se no Fracassado.

Se você acha que estou exagerando, posso fazer uma rápida exposição de alguns fatos.

Vamos começar com uma comparação com os outros times grandes?

Dos doze grandes, apenas Botafogo, Vasco, Atlético-MG, Grêmio e Internacional ainda não foram campeões brasileiros no século XXI. 

Só que o Atlético-MG ganhou uma Libertadores (2013) e uma Copa do Brasil (2014), além de ter sido vice campeão brasileiro duas vezes (2012, 2015); o Grêmio conquistou uma Libertadores (2017) e duas copas do Brasil (2001 e 2016), tendo sido vice brasileiro também duas vezes (2008, 2013), além de ser o clube que mais vezes ficou entre os quatro primeiros colocados do Brasileirão (total de seis vezes: 2002, 2006, 2010, 2012, 2015, 2017); o Inter ganhou duas Libertadores (2006, 2010), uma Copa Sul-americana (2008) e tem três vice campeonatos brasileiros (2005, 2006, 2009). Deixei o Vasco por último por ser, depois do Botafogo, o que mais acumula fracassos no século XXI, com três rebaixamentos (2008, 2013, 2015), mas ao menos possui uma Copa do Brasil (2011) e um vice-campeonato brasileiro (2011).
O Atlético-PR também foi campeão brasileiro no século XXI, em 2001, tendo sido ainda vice em 2004. E cabe destacar também o vice campeonato do São Caetano, em 2001.

Sei que vice campeonato não vale nada, mas ao menos nos mostra que aquele clube estava brigando pelo título. 

Já o Botafogo não briga por nada. Nunca.

O mais perto que chegamos de um título brasileiro foi em 2013, com a 4ª colocação. Ainda assim, quase a perdemos na última rodada, e ainda tivemos que torcer contra a Ponte Preta na final da Sul-americana para assegurarmos a vaga na Libertadores.

Vamos falar agora de Copa do Brasil? Certamente a competição em que o Botafogo acumula mais vexames. 


Dos doze grandes, apenas Botafogo, São Paulo e Internacional ainda não foram campeões da Copa do Brasil no século XXI. Trata-se, na verdade, de um título que os dois primeiros jamais conquistaram em sua história.

Só que o São Paulo foi tricampeão brasileiro (2006, 2007, 2008), campeão da Libertadores (2005) e campeão da Sul-americana (2012) neste século. Na verdade, a Copa do Brasil é o único título que o São Paulo ainda não conquistou em sua história, e isso tem um motivo bem claro: até 2012, os clubes que participavam da Libertadores não jogavam a Copa do Brasil, então o São Paulo tem muito menos participações na competição do que o Botafogo. Assim como o Inter, que , como já disse acima, possui duas Libertadores (2006, 2010) e uma Copa Sul-americana (2008). 

Até mesmo Santo André (2004), Paulista (2005) e Sport (2008) foram campeões da Copa do Brasil. 
Além disso, ficaram com o vice campeonato: Brasiliense (2002), Figueirense (2007), Vitória (2010), Coritiba (2011, 2012) e Atlético-PR (2013).

O mais longe que o Botafogo chegou foi às semifinais de 2007, 2008 e 2017.

E como poderia deixar de lado a Libertadores?

Dos doze grandes, seis foram campeões da Libertadores no século XXI: São Paulo (2005), Internacional (2006, 2010), Santos (2011), Corinthians (2012), Atlético-MG (2013) e Grêmio (2017). Dos outros seis, dois foram vice campeões: Fluminense (2008) e Cruzeiro (2009). 
Os únicos clubes dentre os doze grandes que não chegaram sequer a uma semifinal de Libertadores neste século são Botafogo, Vasco e Flamengo. Só que o Vasco ao menos chegou à semifinal da copa Sul-americana (2011) e o Flamengo tem dois vice campeonatos, também da Sul-americana (2001, 2017).

O Botafogo, por outro lado, jamais chegou a uma semifinal de qualquer competição internacional neste século.

Lembrando que São Caetano (2001) e Atlético-PR (2005) foram vice campeões da Libertadores, e Goiás (2010) e Ponte Preta (2013) foram vice campeões da Sul-americana. Além disso, a Chapecoense também possui um título da Sul-americana (2016).

Repararam como o Botafogo está presente em todas as estatísticas negativas?

Contra números, não há argumentos.

Só para resumir o histórico do "Glorioso" nos dezoito anos deste século:

Só uma vez entre os quatro primeiros colocados do Campeonato Brasileiro: em 2013 (4o lugar). 
Na Copa do Brasil, sua maior façanha foi chegar às semifinais em 2007, 2008 e 2017. 
Participou somente duas vezes da Libertadores da América, caindo uma vez na fase de grupos (2014) e uma nas quartas de final (2017). Além disso, soma dois rebaixamentos para a série B, em 2002 e 2014.

Não é difícil concluir que o Botafogo tem mais vexames no século XXI do que boas participações em competições a nível nacional e internacional, possuindo também mais vexames do que qualquer outro dos doze grandes. 

Episódios em que brigávamos pelo título do Brasileiro e, depois de perdermos todos os últimos jogos, não fomos sequer à Libertadores.

Eliminações na Copa do Brasil para Remo (2001), Gama (2004), Paulista (2005), Ipatinga (2006), Americano (2009), Santa Cruz (2010), Avaí (2011), Figueirense (2015) e Aparecidense (2018). 
Sem contar as goleadas de 4x0 e 5x0 que levamos dos molambos (2013) e do Santos (2014), respectivamente.

Eliminação da Libertadores na fase de grupos com Unión Española e Independiente del Valle, tendo terminado na lanterna do grupo (2014). No mesmo ano, rebaixamento para a série B com duas rodadas de antecedência. 

Eliminação da sul-americana levando três gols nos últimos minutos do jogo, com um jogador a mais (2007). Aproveito para confessar que ainda não engoli a eliminação para o Bahia nos pênaltis, ainda nas oitavas de final (2018).

Quem quiser um detalhamento maior sobre os vexames do Botafogo neste século, aconselho assistir este vídeo, afinal são muitos. Assista apenas se tiver tempo.

E aonde quero chegar com tudo isso?

Esta postagem é, antes de tudo, um desabafo. Todos que me conhecem sabem que não apenas torço pelo Botafogo - eu vivo o Botafogo. Sou sócia do clube desde 2012, frequento General Severiano e deixo de fazer muitas coisas na vida para ir aos jogos deste clube que amo acima de tudo. 

Mas, a cada ano que passa, me entristece mais e mais ver os torcedores de outros clubes comemorando títulos, ou ao menos chegando perto de conquistá-los, enquanto o que me sobra é aturar as zoações dos rivais e encarar a dura realidade da parte de baixo da tabela do Brasileirão.

O Botafogo não é para os fracos. Canso de dizer isso. 

Poderia afirmar que "o Botafogo não precisa de títulos, basta o Botafogo existir para me fazer feliz", frase muitas vezes repetida por um professor do ensino médio. 

Mas isso é pensar pequeno. E não existe conquista com pensamento pequeno.

Ninguém vence achando que vai perder. Há quem vença sabendo ser pior do que o rival, porque o futebol também é feito de estratégia. Mas guardo uma frase que vi em uma propaganda de marca esportiva: "vencer vem de dentro".

Não adianta dizer que o problema é dinheiro. O que outros clubes de menor expressão e com menos dinheiro fizeram que o Botafogo não fez? Essa eu deixo para você pensar.

Levo comigo a certeza de que o buraco é mais embaixo. 

Em todos os sentidos, o Botafogo precisa urgentemente de uma revolução.

3 comentários:

Vinicius Brandão disse...

Lohana, o Botafogo precisa mais que urgente de uma revolução, investir em novos talentos e na base e parar de fazer apostas em jogadores medíocres como Kieza,Moisés e até mesmo Lindoso que pensa que é craque. A maré vai virar e espero que não precise de outro rebaixamento pra isso

Anônimo disse...

Conhecer a historia, analisa-la e mostrar a todos o que e preciso ser feito para mudar o que esta errado e a postura correta. So assim o Botafog tera changes de voltar s "ser grande". Como voce bem escreveu, pode ate nao ganhar algo significativo a curto prazo, mas tem que estar la nas cabecas, incomodando. So assim, ganharemos algo eventualmente. Portanto a expulsao daqueles que estao no controle do clube ha decadas e mandatoria. Alem de outras medidas mais simples mas nem por isso menos importantes como, por exemplo, trocar o verbo "perder", que e usado enfaticamente 2 vezes seguidas no hino do clube, por outro que incentive a vitoria. Saudacoes alvinegras.

Alvinegro Apaixonado.

Anônimo disse...

Infelizmente o problema é dinheiro sim. Em praticamente todos os títulos ou boas campanhas de clubes o alto investimento está intimamente atrelado.

Não basta lembrar as vitórias, mas o que como tais times chegaram tão longe. Seja com uma Unimed ou uma Crefisa. Talvez graças a uma receita altíssima de televisão ou até mesmo usando dinheiro de empréstimo, é raríssimo um time conseguir um título significativo com baixo investimento. Não apenas ausência de títulos, mas a mediocridade também é reflexo da falta de dinheiro.

Começando pelos times cariocas, lembre-se o porquê das boas temporadas e não apenas do resultados final. O thiago neves que marcou 5 gols em uma final de libertadores é o mesmo que marcou o gol do cruzeiro na final da CB de 2018. Tenho certeza que muitos times, incluindo o botafogo, gostariam de ter o jogador no elenco, só que ninguém joga de favor ou por amor. O botafogo de 2013 teve um dos melhores elencos recentes do clube, isso não é garantia de título mas sim de boa campanha, como ocorreu. O mesmo vale para o vasco de 2011 e para o brasileiro desse ano.

Apesar de tudo, "o Glorioso" só existe um, o Botafogo. E a tradição e não o dinheiro que o torna eterno.

SRN